Coordenadoras do Caos
Crise da meia idade ou era da autenticidade? Reflexões, dicas e notícias com borogodó.
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“Coordenadora do caos”, vi escrito em uma caneca enquanto passeava em uma loja de departamentos.
Comprei.
A caneca passou a ser fotografada quase todas as manhãs. Uma brincadeira que virou apelido fofo entre as minhas leitoras. Um jeito irônico e ao mesmo tempo carinhoso de nos reconhecermos. Afinal, somos todas coordenadoras do caos.
Na maioria dos dias esse título me faz rir. Ele me faz rir quando estou atrasada para sair com as crianças, passo pela fruteira e vejo que só tem uma banana madura demais e duas mexericas murchas, vou para a dispensa onde cato uvas-passas, manga desidratada, biscoito salgado, e jogo tudo rapidamente na bolsa.
Ele me faz rir quando estou ajudando um filho com um exercício de matemática e dizendo ao outro que a canetinha está na terceira gaveta, quando uso papel toalha como coador da cafeteira porque me esqueci de comprar mais filtro.
Ele me faz rir quando chego em uma festa de aniversário e percebo que o caçula veio descalço, mas por sorte encontrei um chinelo (cinco números maior) no porta-malas.
Ele me faz rir quando meu marido vem todo empolgado com segundas, terceiras, quartas e quintas intenções e eu digo: “calma, calma lá que ainda preciso de uns minutos para me recompor e me concentrar nisso aqui.”
Essas e outras situações me fazem rir e ter um certo orgulho de coordenar o caos.
Mas há o outro lado, sabemos.
Para mim e para várias outras mulheres ser coordenadora do caos tem um preço, e adianto: não é barato.
Venho de uma família de mulheres fortes. Meu pai fazia até graça. Dizia que algumas das minhas tias se divorciaram porque eram destemidas e decididas demais perto dos maridos. Uma piada que traz leves quantidades de verdade.
Como coordenadora do caos me acostumei a resolver. Sou uma revolvedora convicta. Resolvo pequenos empecilhos do cotidiano, grandes problemas, dilemas, crises. Joga pra mim que, de um jeito ou de outro, mato essa bola no peito, tropeçando, talvez resmungando, talvez ainda sem sutiã - caso seja cedo -, desajeitada, apurada para fazer xixi, e se ainda assim não der certo, resolvo a treta que sobrar.
O curioso é que desde jovem me sinto assim: “lidadora de demandas”. E por isso, também desde jovem, tinha uma certa preguiça de dividir as preocupações que essas demandas me traziam. Dividir me parecia (e até hoje às vezes me parece) mais uma tarefa. Mais um afazer. Mais fácil pular essa parte sabendo que, no final das contas, quem resolve sou eu. No meu modus operandi, se preciso de força, é em mim que procuro.
Não quero ser mal compreendida, está tudo bem no meu relacionamento, tenho amigas com quem posso contar, uma família que apesar dos muitos quilômetros de distância se faz presente. Minha saúde mental tá em dia (dentro daquilo que podemos considerar em dia como mãe de 4 filhos). O que quero dizer é que estou bem.
Mas ser coordenadora do caos é ambíguo mesmo, profundo e difícil de esmiuçar. Desconfio que, se você leu até aqui, provavelmente entende.
Ser coordenadora do caos é sentir o peso da coragem: de ter que sempre ter coragem.
Talvez esse seja o paradoxo das mulheres fortes, das coordenadoras do caos: elas se habituaram a ser corajosas para enfrentar as adversidades da vida. O que, olhando friamente, é uma habilidade bastante útil, admito. Acontece que no auge das tempestades, quando o barco balança sem piedade de um lado para outro, por vezes essas mulheres tem dificuldade de encontrar onde ancorar. E acabam voltando para o único abrigo que conhecem: são porto-seguro de si mesmas.
Este é o nosso compilado de notícias interessantes, preparado com pesquisa, humor e borogodó pela incrível Tati Metran, que coordena o podcast Mulheres do Business.
Quem está meio sumida?
Marie Kondo. Em 2023, nossa fada japonesa e guru da limpeza parou a internet quando disse que deixou de priorizar a arrumação da sua casa depois da chegada do 3o bebê (nota mental: minhirmã, no 1o filho eu já tinha desistido!). Hoje, Marie concentra seus negócios na formação de consultoras no método de limpeza KonMari (são mais de 900, espalhadas em 60 países) e está escrevendo um livro sobre como a cultura e tradições japonesas a influenciaram. Lançamento do livro previsto para setembro deste ano.
Quem foi para o espaço?
A cantora Katy Perry, a ativista e astrofísica Amanda Nguyen, a empresária da aviação Lauren Sánchez, a jornalista Gayle King, a engenheira aeroespacial Aisha Bowe e a cineasta Kerianne Flynn. Durante 'micros' 10 minutos em microgravidade, as seis tripulantes do foguete New Shepard , da empresa Blue Origin de Jeff Bezos, fizeram história: foi o primeiro vôo espacial com uma equipe totalmente feminina desde que a cosmonauta russa Valentina Tereshkova esteve no espaço, em 1963. Apesar da avalanche de memes e das críticas - como o alto custo da missão e o caráter recreativo da viagem - o legado é Potente: meninas podem sonhar em ser estrelas pop, cientistas, cineastas, jornalistas e, por que não, mandar tudo para o espaço e se tornarem astronautas!
Para se conectar com o Universo
Uma atividade que adoro fazer com crianças de todas as idades: entre na página da NASA e descubra o que o Telescópio Hubble viu na data do aniversário de cada uma. Ficou curioso e quer saber como estava o céu no dia em que você ficou mais velh....autêntica? É só clicar aqui.
Por que uma newsletter?
Esta newsletter nasceu de uma lista de motivos.
Da vontade de conversar com calma. De dizer por mais de 90 segundos, sem ter que atropelar as palavras ao ponto de perder o fôlego enquanto segura um microfone na mão (a moda da vez) e finge não estar com falta de ar e câimbra no diafragma.
Nasceu para permitir que sejamos mais parecidas com o que éramos, antes do algoritmo nos manipular.
Do desejo de falar de outros assuntos, com outras profundidades, de contar causos, piadas, falar palavrão, ter papos sérios. Como bem fazemos quando estamos em um ambiente legal.
Nasceu para quem ama ler e ouvir, e também para quem não tem a motivação ou o hábito, mas que, ao receber essa versão moderna de carta na caixa de entrada, aceita dedicar 20 minutos à ela. E acaba se sentindo muito bem por ter feito.
É isso.
Para se sentir muito bem! Pela satisfação de estar fazendo algo que te deixa um tiquinho mais alinhada com seus propósitos (posso apostar que eles vão na contramão do mundo veloz e cheios de fast: fast-food, fast-fashion, fast-news, trends).
Um espaço de onde você não sairá com a consciência pesada por ter desperdiçado o seu precioso tempo. Um local para consumir conteúdo sem ter vontade de fugir dele.
Pode entrar. Jogue no chão essa Nerf que ficou no sofá, coisa de algum filho que deixou largado aí. Não te garanto resolver seus problemas, não sou capaz de tirar de você (nem de mim) o cargo de resolvedora.
Mas prometo um respiro confortante, um caos com cheiro de bolo de fubá e gosto de conversa boa, daquelas que existiam antes de nos ensinarem a viver na pressa.
Senta, fica, pega um café. Aqui até a caneca foi feita pra gente.
Com carinho,
Rafa
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em tempos em que (muitos) textos são escritos por chatgpt, é uma delícia poder nos reconhecer nas palavras de outra pessoa!
"Não estamos ficando velhas, estamos ficando livres para ser quem -orgulhosamente, com muito trabalho, aos trancos e barrancos - nos tornamos." Obrigada pela partilha sempre tão rica, Rafa!! Foram tantas reflexões bacanas que tive aqui, como sempre me sinto depois de te ler ou te ouvir. Dei risada lembrando dos banhos no quarto que dei na minha mais velha e que também me deixavam exausta! E olha que foi bem depois de ti, lá em 2018 e a tradição seguia sendo passada adiante! hahaha Esses tempos me inscrevi numa aula experimental de yoga (coisa que antes nunca me imaginei fazendo) e tenho me surpreendido com o quanto a prática me faz bem! Tem até me ajudado a enfrentar situações de desconforto, coisa que antes eu sempre postergava e fugia o quanto podia.